40 anos NOVA FCSH
Lurdes Martins na Divisão Académica

Lurdes Martins: o compromisso de dar alma à faculdade

Foi há 40 anos, no mês de abril de 1978, que entrei, pela primeira vez, no “portão” que dava acesso à Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.

Olá a todos. Sou eu. A Lurdes Martins, com 23 anos [na foto abaixo], quando iniciei as minhas funções nesta faculdade. Portanto, há precisamente 40 anos. Pois é, o tempo passa, as rugas aparecem e as memórias vão ficando longínquas. 40 anos …  Aqui fiz carreira, aqui fui aluna, aqui me licenciei.

Mas comecemos pelo princípio…

Recordo um espaço amplo, cinzento, que em nada fazia lembrar uma faculdade, tanto mais que vinha de uma outra instituição de ensino com uma arquitetura completamente diferente. Refiro-me ao Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP) sediado, na altura, na Rua da Junqueira, no qual exerci funções durante quatro anos e meio.

Aqui, vários blocos e pavilhões se erguiam, naquela altura, de forma dispersa e descaracterizada. Era uma sensação estranha, porque pouco ou nada se identificava com uma vivência universitária.

Paulatinamente, a NOVA FCSH foi criando a sua própria identidade, gerando transformações na forma de organização e apropriação do espaço existente. Assistimos à transformação do Edifício B1 em salas de aula e à instalação de uma pequena biblioteca no rés-do-chão do edifício B2. Um dos pavilhões foi transformado num espaço cultural a que chamávamos “O teatro”. Palco de várias atividades culturais, foi também espaço de momentos festivos organizados por um grupo de funcionários, designadamente festas de Natal e passagens de Ano.

Lurdes Martins, há 40 anos.

Em 1978, a NOVA FCSH tinha cerca de 300 alunos inscritos. O primeiro espaço reservado aos serviços académicos foi numa sala situada no rés-do-chão do Edifício B1, mais tarde ocupada pela nossa saudosa colega Amélia Craveiro que exerceu as funções de telefonista desta faculdade, com grande brio profissional, durante cerca de 30 anos.

Depois, os serviços académicos transferiram as suas instalações quatro vezes, vindo em 1995 a instalar-se, pela quinta vez, na atual Torre B. Na altura não existia nenhum “NOM” nem os senhores que, carinhosamente, alguns de nós chamam hoje “verdinhos” e, por conseguinte, éramos nós que, literalmente, carregávamos com todos os processos às costas.

Existia entre todos – funcionários, alunos e professores – uma saudável convivência. Fazíamos parte de um coletivo cujo único propósito era a edificação de uma instituição de ensino de referência.

Os serviços académicos funcionavam em 1978 com três elementos. A Conceição Madaleno, de quem guardo as melhores recordações profissionais e pessoais, o João Vieites e eu. Recordo, com nostalgia, esses tempos de início da Faculdade. Existia entre todos – funcionários, alunos e professores – uma saudável convivência. Fazíamos parte de um coletivo cujo único propósito era a edificação de uma instituição de ensino de referência.

Constituíram a primeira oferta letiva da Faculdade os cursos de licenciatura em Ciências Sociais e Humanas, Ciências Literárias, Antropologia, Filosofia, História, Línguas e Literaturas Modernas, Sociologia e a licenciatura especializada em História da Arte.

Várias direções se sucederam. Os nomes dos Professores Doutores António Oliveira Marques, José Silva Dias, João Morais Barbosa, José Matoso, João Pantoja Nazaré, Adriano Duarte Rodrigues, Jorge Crespo, João de Deus Sáàgua, João Costa e Francisco Caramelo figuram entre os principais agentes da mudança ao longo destes quarenta anos.

Assistimos à afirmação deste espaço como instituição universitária, através da eleição dos diversos órgãos colegiais – Conselhos Científico e Pedagógico, Assembleia de Representantes, Associação de Estudantes. No início dos anos 90, a NOVA FCSH foi palco de várias movimentações estudantis, contra o aumento do valor das propinas no ensino superior.

A década de 90 foi igualmente marcada pela construção da atual Torre B. Presenciámos algumas demolições, entre as quais um edifício pintado a cor de rosa, com dois andares, situado à direita de quem entrava na faculdade. No rés-do-chão estavam instalados os serviços administrativos e existia um gabinete ocupado pelo secretário da faculdade. Uma escadaria, forrada a veludo vermelho, dava acesso ao 2º. andar, onde funcionavam os serviços da direção da faculdade.

Todo o espaço se reconfigurou em torno da nova construção. A “parada”, até então local de estacionamento de veículos, deu lugar à “esplanada”, local de encontros e reencontros entre diversas gerações estudantis, de memórias individuais e coletivas, de manifestações e expressões culturais.

Em 1995 a Torre B foi “criando vida”, pela ocupação das Repartições de Contabilidade, Académica e Pessoal, da Biblioteca, dos Departamentos e Órgãos de Gestão. E aqui permanecemos até hoje.

A Repartição Académica, hoje Divisão Académica, foi crescendo em número de funcionários, de competências e de responsabilidades perante um público cada vez mais exigente. Novos desafios se colocaram, novas formas de comunicação emergiram, novas ferramentas e métodos de trabalho se impuseram.

Após algumas tentativas de soluções informáticas de apoio aos serviços académicos, que vieram a manifestar-se insuficientes, foi implementada em 2001 uma aplicação de gestão escolar no âmbito de parcerias estabelecidas entre a Universidade Católica Portuguesa e outras entidades para o desenvolvimento e suporte desta aplicação. E é o SOPHIA que se mantém, até aos dias de hoje, como a principal ferramenta de gestão académica dos milhares de estudantes que têm passado por esta faculdade.

Todos os contributos foram determinantes para a afirmação desta Faculdade. Todos os que assumiram o compromisso de fazer deste espaço uma faculdade com alma.

Muitas outras vivências poderiam ser partilhadas. Umas, dissipou-as o tempo; outras, guardo-as na minha memória.

Sabemos que as instituições são entidades com memória. Manter a memória da NOVA FCSH continua e continuará a ser um desafio de todos quantos dela farão parte. Transformar essa memória e associá-la a novas realidades, a novos contextos, será certamente o percurso que todos, num espírito de partilha, devemos continuar a seguir.

Lurdes Martins