40 anos NOVA FCSH
Ficha de aluno de Cristina Ponte
Ficha de aluno de Cristina Ponte

Cristina Ponte: memórias de uma trabalhadora-estudante

Entrei na NOVA FCSH ao mesmo tempo que era professora do primeiro ciclo. Comecei por escrever na Mini-Messa, uma máquina de escrever, depois no Spectrum ligado ao ecrã do televisor quando todos dormiam, e finalmente num computador PC ainda no tempo dos floppy disks. Acabei o curso de Comunicação Social no ano em que nasceu a Internet. 

Entrei para o curso de Comunicação Social em 1981-82, como estudante supra-numerária ao abrigo de uma legislação que permitia o reingresso no ensino superior a quem já o tinha frequentado. O curso de História que iniciara em 1973, na Faculdade de Letras, tinha sido interrompido devido a uma suspensão por ter falado numa interdita Reunião Geral de Alunos, quando os ‘gorilas’ vigiavam estudantes. Em 1979, concluí o curso do Magistério Primário, que respirava então o ar dos tempos. Naquele início dos anos 1980 era professora do primeiro ciclo num projeto do Ministério da Educação e do Instituto António Sérgio que visava promover formas de cooperação escolar. Uma das três escolas dessa experiência pedagógica era a número 185, nas Galinheiras, às portas de Lisboa. Era aí que eu estava.

Foi uma licenciatura que me alargou horizontes, com conceitos que antecipavam tendências, de autores como Richard Sennett e Sherry Turkle

Penso que vi a informação do edital das candidaturas na imprensa. No novo curso da recente Faculdade de Ciências Sociais e Humanas chamaram-me a atenção ‘cadeiras’ com nomes desafiantes como Teoria da Comunicação, História dos Média ou Semiótica das Artes Visuais, mais uma panóplia de introduções a Ciências Sociais e ao jornalismo, claro.

Foi uma licenciatura que me alargou horizontes, com conceitos que antecipavam tendências, de autores como Richard Sennett e Sherry Turkle, feita a um ritmo inicial de ‘um ano em cada dois’. Uma postura engajada de quem vivera a adolescência na transição entre os anos de chumbo da ditadura, a irrupção da liberdade e a afirmação de direitos marcou a escolha de leituras e de temas para os trabalhos académicos que fui realizando. Queria ligar conhecimentos e quadros de análise aos contextos profissionais onde estava inserida, fora da Universidade: como formadora de professores no Projeto Minerva, que introduziu computadores na sala de aula do 1º ciclo; como membro da equipa de investigação pedagógica da série Rua Sésamo, co-produzida pela RTP, e editora da revista com o mesmo nome, da TV Guia. E encontrei sempre aqui espaço para o fazer, com trabalhos académicos que interpelaram discursos de textos de manuais escolares, a relação de docentes com a tecnologia, os modos como crianças davam sentido a segmentos do Cocas e companhia, ou para elaborar uma grande reportagem sobre o Jornalinho, que seria publicada no Comércio do Porto. Como também tive espaço para estudar a força da caricatura como forma de expressão visual ou para desmontar a cobertura noticiosa da campanha presidencial de 1986 nas páginas de O Diário. Escritos primeiro na Mini-Messa, uma máquina de escrever, depois no Spectrum ligado ao ecrã do televisor quando todos dormiam, finalmente em computador PC ainda no tempo dos floppy disks. Acabei o curso de Comunicação Social no ano em que nasceu a Internet, em 1988.

Diria que ter realizado esta licenciatura tão à frente de outras ofertas e nestas condições de liberdade de escolha de temas e de incentivo a que me questionasse e que fizesse das teorias e metodologias chaves para intervenções profissionais e de cidadania é uma marca desta Faculdade que continuo a transportar. Sempre escolhi os temas sobre os quais queria pesquisar, em estreita ligação com temáticas sociais e com as sociedades mediatizadas em que vivemos. Para esses estudos, contribuíram teorias e metodologias dos Estudos dos Média e de Ciências Sociais, tanto no mestrado como no doutoramento e na agregação que fui realizando nesta Faculdade. Fui entrecruzando essa formação e este espaço com os de redes de investigadores e com outras universidades. Porque também acredito – e pratico – que a investigação académica não tem de ser um processo solitário e que o seu engajamento social também tem espaço na Universidade.

Cristina Ponte é Professora Associada com Agregação e atualmente coordenadora do Departamento de Ciências da Comunicação da NOVA FCSH.


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