Viram o filho entrar naquele que foi o curso que os juntou. Francisco escolheu Ciências da Comunicação, sem ter ouvido o mínimo comentário dos pais. Talvez seja a forma de reforçarem os valores que, na sua opinião, definem o ADN da NOVA FCSH: abertura de espírito e pensamento crítico.
“É a primeira vez que nos juntamos a falar sobre este assunto”, desvaloriza com um encolher de ombros Francisco Madureira. Aluno do primeiro ano de Ciências de Comunicação, está sentado na cantina na companhia dos pais, com o característico barulho de fundo a temperar a conversa. As instalações já sofreram várias modificações, mas simbolicamente é como se continuasse tudo igual.
Foi nesta faculdade que Ana Esteves e Nuno Madureira se conheceram quando entraram em Comunicação Social em 1990 — mudaria para a designação atual durante o seu curso, do terceiro para o quarto ano. Vinte e sete anos depois, foi a vez de o filho fazer uma escolha muito próxima, sem que nem por um instante lhes tivesse ouvido um comentário a condicionar a sua opção.
“O importante é vê-lo fazer as suas escolhas como nós fizemos a nossa”, diz o pai. A mãe, por sua vez, refere como já é muito marcante ver um filho entrar na faculdade, pior um pouco quando é precisamente na mesma licenciatura: “Veres um filho a percorrer o caminho que já percorremos, é veres a história repetir-se, tem uma emoção diferente”.
Decidiram ambos pela NOVA FCSH convencidos de que era a melhor escolha para quem queria seguir jornalismo, mas também pesou o facto de ser em Lisboa. Para trás ficava a Sertã, no caso de Ana, sendo uma grande ajuda poder ficar a viver em casa dos avós, em Benfica. Já para Nuno, sair do Porto significou uma oportunidade de ganhar independência. “Podia ter entrado logo em 1989, mas foi um ano muito confuso com boicotes dos professores à Prova Geral de Acesso e as aulas a começarem só em janeiro. Por isso decidi ficar na Escola Superior de Jornalismo, perto de casa, mas depois achei importante mudar.” Continuou a jogar andebol, como fazia na sua cidade, e nem mudou de cores ao passar a vestir a camisola do Belenenses.
“Há um espírito muito aberto, em que tudo é questionado e se fomenta o pensamento crítico dos alunos. Conheço pessoas de outras faculdades que invejam essa abertura”, afirma Ana.
Também Francisco viria a tornar-se jogador de andebol do mesmo clube, onde tanto alinha pelos juvenis como pelos juniores, mas no seu caso a universidade não significou morar longe dos pais. “Escolhi mais pela faculdade em si do que pelo curso. Ainda hesitei seguir Ciência Política, mas acabei por escolher Ciências da Comunicação por ser mais abrangente e não ter de decidir nada para já, entre as quatro vertentes.”
Mas afinal o que distingue a NOVA FCSH das restantes faculdades? Francisco ressalva que conhece muito pouco de outras escolas para poder tecer comparações, mas merece-lhe elogios a diversidade de pessoas. “É excelente, encontras malta de todo o lado e de todos os tipos.” A multiplicidade cultural que hoje se observa é sem dúvida muito maior do que no início dos anos 90, quando o programa Erasmus dava ainda os primeiros passos. É uma diferença significativa, mas só vem reforçar o ambiente de liberdade que os seus pais sempre sentiram. “Há um espírito muito aberto, em que tudo é questionado e se fomenta o pensamento crítico dos alunos. Conheço pessoas de outras faculdades que invejam essa abertura”, afirma Ana. “Esse espírito motivou-nos a vir para cá e depois formou-nos não só como profissionais, mas como pessoas.”
Também Nuno sublinha este património de liberdade: “É um curso que nos permite abrir os horizontes e depois escolhermos o nosso caminho. A autonomia, a sensação de sermos responsáveis pelas nossas escolhas são muito cultivadas aqui”. Mas nem só de elogios são feitas as suas palavras. “Em algumas cadeiras vive-se um pouco em circuito fechado, cortando a ligação com o exterior. Talvez seja uma crítica geral ao meio académico — existe na NOVA como existe nas outras instituições.” Como jornalista também sente falta de uma experiência mais realista do que se vive numa redação: “As condições são fracas, assim como escassos os materiais para simular a prática jornalística, mas não só. A biblioteca não está á altura da faculdade e dos professores que tem, é limitada em áreas específicas”.
O tempo de todas as oportunidades
Francisco ainda não tem uma escolha profissional definida, mas sabe que arranjar trabalho é hoje bem diferente de quando os seus pais eram estudantes: “Como o mercado está hoje, é difícil começares logo a trabalhar. Depois da licenciatura tens de fazer o mestrado…” Para eles, aliás, acabar o curso nunca foi uma prioridade.
Nuno começou logo a trabalhar no primeiro ano, graças a um trabalho da disciplina de História dos Media, cujo professor era Mário Mesquita. Dedicou-se a estudar a construção de mitos no jornalismo desportivo, a partir de textos publicados no jornal “A Bola”. A análise das vidas de atletas como Joaquim Agostinho, Eusébio, Carlos Lopes ou Rosa Mota valeram-lhe a entrada no jornal, onde iniciou a sua carreira de jornalista desportivo. Tinha 19 anos e a somar ao andebol não lhe sobrava muito tempo para aproveitar tudo o que os tempos da faculdade tinham para oferecer. Ainda assim, uma das memórias que ainda o faz sorrir remonta aos tempos de caloiro. “Perdemos o torneio inter-faculdades de futebol em penáltis”, conta entre risos. “E fui eu que falhei o penálti decisivo.”
Em contrapartida, o que lhe pode ter escapado em lazer foi compensado pela intensidade do trabalho. “Tivemos a sorte de iniciar a nossa experiência profissional numa altura de grandes mudanças: passou a haver computadores nas redações, deram-se os primeiros passos na internet, telemóveis… foi todo um processo de revolução.” Entretanto, voltaria à faculdade 20 anos depois, não só para terminar a licenciatura como para começar o mestrado em História Contemporânea.
Ana reconhece que foram tempos privilegiados que se viveram na década de 90, exatamente o oposto do que se passa com a geração do Francisco que parece ter tudo fechado. “Houve um boom de comunicação social, estava tudo a fervilhar e a nascer.” De tal modo que acabaria por ser convidada a ficar na revista “Pais & Filhos”, onde fez o estágio curricular e onde trabalharia durante 13 anos. À semelhança do marido, não terminou o curso em 1994, como estava previsto, deixando uma cadeira para trás. Acabaria por terminá-la em 1999, em condições muito particulares: estava à espera do primeiro filho. Precisamente aquele que voltaria pelo seu pé à Faculdade, quando chegasse aos 17 anos.